sábado, 15 de janeiro de 2011

Se dói...

Mas se dói quando você ama, melhor seria então esquecer, desviver, desviar à fatalidade do desamor... e se entregar a apatia da vida, à margem das alturas, na segurança das raízes, na falta de água que no deserto de seus olhos a lágrima seca e assegura a paz das planícies sob uma sombra morna de solidão.

E se dói quando me ama, e a distância parece um eterno amanhã que não encontra a órbita necessária para voltar, um sol abandonado, estático no nada, feito uma nau no largo mar da saudade. Se parece que o coração vai arrebentar em mil pombas despedaçadas e que não há coisa mais dolorosa que amar, vou entender se o monopólio do pensamento que eu represento, se desfizer... não exijo que sua boca só dos meus beijos se alimente ou só meu sangue em teu sangue num coração a batida de toda uma vida.

Respeitarei. Serei a folha solta desse teu longo livro, serei pó sem nenhuma cor, as aspas fechadas de teu verso inconcluso. Mas se a memória do que vivemos permanecer gravada pelo tempo afora, na saudade desse amor estarei sempre perto, estarei sempre dentro, para muito além de qualquer dor...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

10 Minutos

São uma e vinte da manhã e eu só penso em deitar, deito e penso, penso, sem muita mobilidade, o frio traz ao corpo uma mortalha de fronhas e edredom, está aprisionada a mente também, numa cabeça alheia, a sua... abro um chocolate, na esquina ali perto, um zumbindo de vento quebrou-me as asas e o sonho deitado sobre meu corpo é uma fera qualquer, numa potência qualquer, voando raso nas ruas de Montevidéu. Como o chocolate, que ao paladar saciado resvala sem trégua à lembrança de sua boca achocolatada...

Uma e vinte e cinco... rodei o quarto compassado pelo badalar silencioso de um coração com passado... não há roteiro, pensamentos guiados, me aventuro poético, improvisado, construindo na imagem de seus beijos sonetos extremadamente metrificados, conduzido par a par pelas vias acidentadas da memória, reconstruindo em meus lábios teu hálito, em meu peito, a marca de sua presença é uma ausência ferida que pulsa...

São uma e trinta e devorei todos os chocolates, agora sem querer, tenho sono. Agora um sentimento me deixa aliviado e é a chama destas saudades que mantém em meu peito um coração pulsante e ocupado...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Lua do Avesso

Comecei do avesso

te entreguei suado,

as palavras liquidas,

num beijo desejado

como devolução contundente

a teu sorriso sarcástico.

As horas da lua

seu olhar calcula,

como espada finca

o aço prateado

no crepúsculo de meus sonhos,

horas de antepassados

dedicação e trabalho

à construção de meu acaso.

Ter te conhecido: meu destino.

Partir entre espinhos,

entre o adeus ameaçado,

envolto na fração de nuncas

de teus braços...

fecho os olhos,

aureola da lua sobre a carcaça pálida

de meu espírito abandonado.

No infinito ato de esperar

o desconhecido é algo letal,

veneno vertido de seus olhos,

proposições de alívio para o real.

Em Frangalhos

Meu coração em frangalhos, nada do que você diga agora, perfume sonoro do seu hálito fresco, toque suave contrapelo, nada, do que já foi tudo, poderá reparar a partida definitiva do coração em mim. Bate opressivo, nada do que eu diga poderá redimir, gargalhadas desesperadas, bate asas as palmas, fora do palco a lápide arquitetada, fora pra mim, a cova aberta que o peito aperta, fora de mim as forças do porvir...

19/01/10