Mas se dói quando você ama, melhor seria então esquecer, desviver, desviar à fatalidade do desamor... e se entregar a apatia da vida, à margem das alturas, na segurança das raízes, na falta de água que no deserto de seus olhos a lágrima seca e assegura a paz das planícies sob uma sombra morna de solidão.
E se dói quando me ama, e a distância parece um eterno amanhã que não encontra a órbita necessária para voltar, um sol abandonado, estático no nada, feito uma nau no largo mar da saudade. Se parece que o coração vai arrebentar em mil pombas despedaçadas e que não há coisa mais dolorosa que amar, vou entender se o monopólio do pensamento que eu represento, se desfizer... não exijo que sua boca só dos meus beijos se alimente ou só meu sangue em teu sangue num coração a batida de toda uma vida.
Respeitarei. Serei a folha solta desse teu longo livro, serei pó sem nenhuma cor, as aspas fechadas de teu verso inconcluso. Mas se a memória do que vivemos permanecer gravada pelo tempo afora, na saudade desse amor estarei sempre perto, estarei sempre dentro, para muito além de qualquer dor...